Sobre Obrigação e Falsidade dos Dons Espirituais

Ora, os próprios dons espirituais passaram a ser parâmetro de espiritualidade de tal modo que aqueles que não os apresentassem periodicamente eram nivelados por baixo e estigmatizados pela liderança e demais membros, incutindo em nossos corações um angustiante sentimento de culpa e complexo de inferioridade. O que era algo espontâneo passou a ser cobrado. Sim. Pessoas eram cobradas, ainda que indiretamente, para terem visões, revelações, falassem em línguas, como dons espirituais fossem, assim, a granel, na hora que o crente bem entendesse em inventar. É tão lastimável a atitude mesquinha de vocês em constranger jovens e senhores a apresentarem “visões” e “revelações” corriqueiramente, que, coitados, assombrados pelas coações (sermões e ameaças de púlpito) e oprimidos pela ânsia do desejo de aprovação e aceitação no sistema, para não serem mais rotulados, fatalmente acabavam incorrendo ao pecado. É lastimável. Vocês, pela vaidade de quererem lustrar a instituição de vocês para os visitantes, de alardear a suposta exclusividade espiritual do sistema, pressionavam as ovelhas a ter dons, mas, por outro lado, o que faziam, inocente ou avarentamente, era suscitar o pecado nelas: indiretamente, estimulavam-nas a mentir, a forjar visões e revelações para poderem, finalmente, ser contempladas com olhares aprobativos e tapinhas nas costas. Quanta hipocrisia!

A quem querem enganar? A vocês mesmos, acriançados um tanto quanto cínicos, engolindo esse “faz de conta”, fazendo vista grossa àquelas mesmices de repetições de“sandálias velhas e novas”, “rosas vermelhas”, “fios de prata ou de ouro”, “bíblia de ouro”, “vestes rasgadas ou brancas”, “um anjo ou um ser de branco”, “candeias vazias”,“colírio de cor vermelha”, “olhos com escamas”, “bagagens, bolsas ou malas cheias de areia”, “mas vinha um anjo…”, “na medida que o louvor se processava…”? Ora, vocês mesmos, no fundo, no fundo, sequer acreditavam mais nesse repeteco, na veracidade desses “dons”, mas mesmo assim os fabricavam e re-fabricavam para poderem “sair bem na fita”. Como conseguem conviver com esse teatro? Não sentem nenhum pingo de temor e remorso?

Por isso, vocês mais destruíam a saúde mental e espiritual das pessoas do que ajudavam a construir pessoas bonitas e belas de caráter. Pois é um contra-senso esse ensino de inversão de valores: em vez de estimularem o exercício dos dons do amor, da fé, da sabedoria (os mais importantes, segundo a própria Bíblia), em priorizar relacionamentos com o próximo (frutos do Espírito Santo) e com Deus, resumiam apenas a espiritualidade do crente em ostentar dons espirituais que ajudavam a afirmar a pseudo espiritualidade do sistema e lsutrar a “espiritualidade” do crente – visões, profecias e revelações, a torto e a direito, para “dar e vender” –, para a sedução de incautos e ingênuos que, tomados por arroubos e impulsos, davam crédito a suas histórias, cegos pela emoção momentânea. Situação semelhante aos crentes maravilhados com a Denominação do “bispo da esquina” que buscam milagre pelo milagre, para saciar suas próprias conveniências pessoais (financeiras, sentimentais e físicas)

Os dons dos quais expressam a Justiça, a Equidade e o Amor de Deus, ou mesmo os frutos do Espírito Santo que constatam a mudança de personalidade, de caráter, do novo nascimento, eram relativizados; e ênfase era nos dons espetaculosos, através dos quais pudessem, além de desejarem afirmar Maranata em autoridade espiritual, desejavam os dons pelos próprios dons para atingir seus fins [religiosos] pessoais, em vez de estarem interessados nos desdobramentos do que o amor e fé cristã causam na vida do crente por ações e mudanças de caráter e valores, numa mudança de dentro para fora, aplicados ao próximo, ao Evangelho.

Entretanto, nem todos têm a falta de temor e a vaidade religiosa de inventá-los para se sentirem aprovados e aceitos no meio de vocês. Ainda há gente de caráter e com temor a Deus na Maranata! Ainda há gente que prefere aceitar o desprezo e a indiferença de religiosos do que trair a Justiça, a Hombridade, a Honestidade e Nobreza ensinada pelo Senhor Jesus. Ainda há gente que ama muito mais a glória de Deus do que a aprovação e reconhecimento de religiosos e líderes que gravitam em função da Instituição, e não das ovelhas. Porém, esses que se opõem aos interesses do sistema religioso, são os que mais sofrem, pois, pelo amor e zelo ao Senhor Jesus, são sempre julgados e presumidamente culpados como “sem-revelação”, e depreciados no “Grupo de Intercessão”, o qual elucubra punições e especula pecados sobre a vida alheia, pelo fato do crente não está sendo “usado nos dons”. A própria Bíblia nos diz que dons do Espírito são distribuídos moderadamente do modo como Deus quer, para cada um, para a edificação da Igreja, e não desse modo excessivo, a granel, como a Maranata, o Presbitério, o pastor ou o crente exibicionista quer, visando à conveniência do sistema e o markenting pessoal.

Se a própria Bíblia diz que cada um tem sua vocação no Corpo de Cristo, até hoje nos perguntamos como os “super-crentes” da Maranata conseguem ser dotados de todos os dons espirituais? Todos!? Intrigantemente, na hora que bem entendessem, conseguiam ser agraciados com línguas, visões e revelações… Interessante é que curas, milagres, ou seja, os dons espirituais impossíveis de serem fraudados, efetivamente não possuíam essa mesma abundância na Maranata. Já pararam para refletir sobre? Aliás, são raríssimos, nada diferente de outras Denominações. Bastava-nos reunir, na salinha lá de trás, que uma profusão de “dons”, a torto e a direito (repetitivos, inclusive), emanava da mente fértil dos presentes. Bastavam vocês arquitetar uma atmosfera piedosa: entoar um louvor lutuoso, daqueles de alto apelo emocional, somados a uma pregação altamente ofegante e artificialmente carregada de autocomiseração, que facilmente, muitos ali – e frisa-se: sempre os mesmos – simulavam as manifestações “espirituais”. Tudo muito previsível e deliberado. Como se Deus só operasse debaixo de muita lamúria e emocionalismo.

E o mais desprezível era que, se estava em “falta” dons espirituais, bastava uma repreensão severa do pastor, que, minutos depois, já surgiam de três ou mais manifestações “espirituais”. É para rir ou para chorar? Jamais vocês poderiam colocar uma coleira no Espírito Santo a fim de limitar e controlar suas ações de acordo com aquilo que satisfazia as conveniências do sistema. Dons espirituais são para edificação da Igreja (pessoas) e não para lustrar o nome da Instituição, tampouco para afagar o ego do crente vaidoso. Então, por que vocês nunca pararam de coagir moralmente as pessoas a terem dons? Se a Palavra diz que cada uma, ainda que de pouca honra aos olhos humanos, tem a sua função no Corpo de Cristo, por que ainda as pessoas são desmerecidas a nível inferior de espiritualidade, quando não apresenta “dons”?

Uma espiritualidade de meninos vaidosos. Supervalorizavam muito mais os espetáculos dos sinais para desprezar os valores e conteúdo do caráter de uma nova criatura. Clamavam por sinais, espetáculos divinos, para envaidecer-se espiritualmente, para se afirmar perante os outros, como os judeus de outrora, enquanto o mais importante, a essência do Evangelho, os valores bonitos do cristão, os frutos do Espírito Santo, eram subestimados, indiferentes, relativizados… Vocês pediam por sinais, pediam pela “sabedoria” da “revelação além da letra”, como os gregos dos idos da Igreja Primitiva, mas os que viviam a singeleza do Cristo crucificado eram sempre julgados como “cartas fora do baralho”. As mesmas circunstâncias do ministério de Jesus e apóstolos se repetindo mais uma vez… As mesmas infantilidades tão combatidas por Paulo junto aos coríntios…

comentários
  1. Paulo disse:

    Triste de quem ainda segue esta ‘instituição’ pensando estar seguindo os ensinamentos de Jesus. As Boas Novas são para pessoas necessitadas e não para satisfazer egos de líderes fundadores de uma religião (não sei se estou ofendendo os religiosos) que se senti acima de tudo e de todos. Saiam da cegueira e olhem para Jesus autor e consumador de nova fé.

  2. Aline disse:

    É bem interessante como as coisas se procedem lá dentro.A cobrança era imensa,me sentia um zero,pois não tinha “dons” de visão ou revelação,qdo tinha algum eram sonhos e se começasse a entregar muitos era chamada de “irmã dorminhoca”,dá pra acreditar?Quantas vezes fui constrangida por obreiros me apontando dizendo que eu só entregava sonhos…E teve uma vez que o próprio pr. falou que era pra eu consultar a Bíblia pra saber se eu devia entregá-los ou não,mas não era pra ele saber disso???
    Muitas vezes me sentia confusa com aquele clima dentro da igreja.Quando o pastor ou outro membro estava na igreja,era um festival de “dons”,um atrás do outro.Qd não estavam,os mesmos irmãos tão usados no dia anterior estavam mudos ou sem comunhão…que coisa não?
    Sem falar que ficamos alguns longos dias sem ir a igreja e ninguém nos procurou,e quando estivemos na igreja perguntaram com a cara mais limpa:”_Por que vcs sumiram? Oq aconteceu?”
    Ora,se eles quisessem realmente saber tinham procurado por nós.
    Foi neste mesmo período que me senti destacada,senti algo muito ruim,a igreja estava fria,as pessoas trocando olhares acusadores,jogando indiretas…E no último “seminário” aqui na minha região,procurei por um casal amigos meu e de meu esposo e estranhei não vê-los.E procurei saber o pq de não terem ido ao encontro,acabei descobrindo que haviam saído da icm.Fiquei sabendo o verdadeiro motivo,na hora foi impactante,mas depois entendi a razão,na realidade eu tb queria sair,já não suportava viver ali dentro…e graças a Deus consegui me libertar,no começo foi difícil me desligar,mas agora me sinto normal e pensando com minha cabeça.

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