Sobre o Desvio do Fundamento

Aos amados leitores deste blog, aos irmãos e especialmente aos responsáveis mantenedores do sistema “Obra”:

Alguns de nós que vieram diretamente da tradição católica, ou de outra agremiação dita “evangélica”, ou mesmo da incredulidade, para nos filiar à Maranata, e até alguns que já nasceram no isolamento de tal sistema, ouvimos, à exaustão, e aprendemos a ter que dar crédito às todas e quaisquer opiniões e subjeções dos mestres da citada igreja. Ouvimos, ouvimos e ouvimos reiteradas vezes que as demais Instituições religiosas ou qualquer expressão religiosa, com a exceção da Maranata e seus atributos “revelados”, estavam todas entregues ao “cristianismo falido” – ou às heresias e apostasias, ou à religiosidade tradicionalista, ou ao comércio e materialismo da fé cristã, ou à libertinagem e mundanismo nas igrejas.

Diariamente nos cultos, quinzenalmente nos seminários e periodicamente nos eventos de feriados, bem como, somado a política de nos submeter ao total isolamento e censura de não termos contato com nada em matéria de fé que não fosse da Maranata, inevitavelmente fomos induzidos para essa compreensão restrita e reducionista da fé alheia. De tal modo que, de tanto repetirem e reforçarem essa ideia, fora-nos açulados um sentimento de narcisismo e elitismo religioso – quiçá, fundamentalistas sectários e extremistas religiosos, conceitos que definiriam de modo mais preciso aquilo que esse ensino nos tornara outrora.

Todavia, isso não foi culpa apenas de seus visionários idealizadores, mas também nossa. Por causa de nossa ingênua e passiva disposição de dar crédito a toda e qualquer palavra advinda do Presbitério e pastores – passividade essa decorrente de chantagens e ameaças espirituais a não contrariá-los para que não incorrêssemos ao pecado da “idolatria” e “blasfêmia contra o Espírito Santo”, pois os “ungidos do Senhor” deveriam gozar de obediência cega e restrita. Bem como, pela nossa inércia e covardia, ao mesmo tempo vaidade e arrogância, de adotar uma postura alienada e infantil a respeito da fé das outras agremiações cristãs, desprezando e inferiorizando-as, como fôssemos superiores e melhores em matéria de espiritualidade.

E, pelo comodismo em aceitar o ardiloso ensino anti-bíblico de que a “letra mata”, gradativamente, tendemos a inferiorizar e relativizar as Escrituras, a tal ponto que passamos – a menos, sem perceber – a depositar muito mais confiança, dar crédito ao que os pastores nos ensinavam, principalmente em seminários, satélites e apostilas – cujas palavras recebiam o peso e a reverência de “reveladas” -, do que confiar nos ensinos das Escrituras e naquilo que o Espírito Santo, intimamente, falava diretamente aos nossos corações, conferindo tudo e retendo o que é bom, tal como os exemplos dos bereianos, registrados na Palavra de Deus. Como meninos que ainda engatinham, aprendemos a desacreditar em nós mesmos como pessoas capazes de relacionar-se por si próprios com Deus, e passamos a venerar a espiritualidade dos pastores e mestres do Presbitério, aceitando tudo passivamente ao que eles ordenassem e recaísse sobre nossa vida, como verdade inquestionável e de obediência obrigatória.

Por causa desses três motivos nós fomos fisgados por essa utopia, ou melhor, distopia religiosa. Os efeitos dessas três causas sempre foram o intento, ainda que indireto, dos mestres de Vila Velha sobre nós enquanto membros da Maranata. A dita “revelação” (entenda-se: as ordens e ensinos próprios dos pastores da Maranata) ganhou muito mais autoridade e crédito do que as palavras da Bíblia Sagrada. Por consequência, fomos adestrados à conclusão de que somente a Maranata era a única igreja, dentre todas, que praticava e nos poderia instruir para a Salvação Eterna em Cristo Jesus. Afinal, só a Maranata detinha a tal da “revelação” – um conhecimento divino extra-bíblico, exclusivo da “Obra”, dito revelado pelo próprio Deus aos fundadores e regentes da Maranata (Presbitério), que nenhuma outra Denominação havia “alcançado” esse “segredo”. A Bíblia, já que qualquer “igreja” tinha acesso mesmo, fora reputada como um livro comum, de relatos históricos e rebaixada como mera “letra”; mas que somente os pastores da Maranata eram os que conseguiam entendê-la de forma “revelada”, pois que gozavam do conhecimento do “Jesus vivo e revelado”, ao passo que os outros crentes só conheciam “teologia”, “filosofia” e o “Jesus histórico e morto”. Não foi assim que nos induziram a crer? Venderam-nos esse pacote, e, inocentes, compramo-lo, induzido pelo pecado da timidez e covardia em não testificar a sua legitimidade bíblica.

Não só nos induziram, mas também nos condicionaram psicologicamente a ficar sob as rédeas da culpa e do medo, porque, caso não estivéssemos conformes os caprichos do sistema da Instituição, ou seja, de acordo com aquilo que o Presbitério entendia e estabelecia como “verdade” e “obediência a Deus”, incorreríamos à própria negação da fé cristã e da pessoa do Senhor Jesus, em seguida, com a perda da Salvação. Sem esquecermos de que, também, caso não sujeitássemos as opiniões incontestes dos pastores, estaríamos nos expondo e colocando como potenciais vítimas do Maligno e do “peso da mão do Senhor”, numa eventual vida pós-dissidência da Maranata. Era esse o “evangelho” da ditadura e do terrorismo que nos sujeitamos…